Gentil Assombro

Em entrevista recente, o violonista João Camarero ofereceu um olhar bastante interessante para o violão no Brasil. De um lado, há toda a riqueza de repertório, tanto na música popular quanto na música erudita. De outro, “uma flexibilidade que consegue agregar estilos, manifestações”. Em outras palavras, o violão também encarna uma complementaridade entre diferentes universos. Seu novo disco é prova bem-acabada disso. A sensibilidade musical de Camarero e seu apuro técnico conseguem unir diferentes mundos em um disco, em um discurso musical que nos envolve faixa a faixa. Há dois temas inéditos de Paulinho da Viola; Scherzino Mexicano, de Manuel de Ponce; Dança brasileira, de Radamés Gnattali; Articulado, de Sergio Assad. Esta última peça foi escrita para Camarero, que também mostra no álbum composições autorais, as Pequenas valsas sentimentais nº 3 e nº 5. Segundo ele, trata-se de miniaturas de caráter sentimental, quase contemplativo. Evocam a música brasileira à luz de outras estéticas e, para o músico, são um retrato daquilo em que ele acredita hoje como intérprete. Pois ele se revela aqui um músico em constante movimento, e temos o privilégio de poder acompanha-lo no palco ou em gravações como esta.