Gluck: Orphée et Eurydice

A estreia de Orfeu e Eurídice, de Gluck, é um marco na história da ópera. O compositor se propunha, com a obra, uma reforma do gênero, abrindo mão de excessos e colocando o protagonismo no sentido teatral, que deveria guiar os demais elementos do drama, como o canto e a música. A obra estreou em 1762 em Viena e, 12 anos depois, Gluck a revisou para apresentações em Paris. O papel de Orfeu, antes destinado a um castrato, agora foi adaptado para tenor, e a partitura ganhou novos números de dança. O fundamental se manteve, porém: o foco na ação dramática, tão bem recriado nessa gravação do grupo Les Arts Florissants, liderado por Paul Agnew. O senso de estilo só é comparável ao poder teatral da leitura, que conta com solistas vocais de exceção: entre eles, o tenor belga Reinoud van Mechelen (que interpreta Orfeu) e a soprano portuguesa Ana Vieira Leite (Eurídice). Ambos se formaram no projeto pedagógico idealizado pelo criador dos Les Arts Florissants , William Christie, e se mostram muito à vontade com uma música que é símbolo do rigor do classicismo e, ao mesmo tempo, imbuída de intensidade apaixonada.

Newly arrived in Paris, where he meets again his ex-pupil Marie-Antoinette, Gluck decides to court the Parisian public by revising one of his great Viennese successes: Orfeo ed Euridice. More than a simple adaptation to the French language and taste, his Orphée et Eurydice proves to be an out-and-out aesthetic revolution. This operatic wind of change has been recaptured for us to rediscover by Paul Agnew, Les Arts Florissants and three exceptional soloists.