Trans-criações

A sacralidade da obra de arte é um conceito relativamente recente. Para a sensibilidade e o gosto de nossa época, “mexer” em peças dos grandes autores do passado soa como uma heresia imperdoável. Ao longo do século XIX, no entanto, a prática era comum. Primeiro, porque versões para menos instrumentos poderiam ser tocadas mais facilmente. Mas não apenas isso. O exercício de transcrever uma obra pode se revelar também uma fascinante forma de entender as ideias que motivaram seu autor. É esse o contexto em que nasce o disco Trans.criações, do Trio Arqué (leia mais sobre o CD na página 22). Eles abrem o álbum com a versão de Eduard Steuermann para a Noite transfigurada, de Schönberg; em seguida, tocam Mozart-adagio, em que Arvo Pärt dialoga com uma sonata de Mozart. Já as duas últimas peças mostram compositores transcrevendo a si próprios: em Tristia, Liszt expande uma partitura original para piano solo; e, no Trio, Camargo Guarnieri repensa sua Sonata nº 7 para violino e piano. Um olhar rico sobre os caminhos da criação. Haverá recital de lançamento na Sala São Paulo, no sábado 28 de maio.