Um piano na esquina

Poucos artistas conseguiram captar a nostalgia brejeira que São Paulo tinha antes de virar a atual megalópole. O compositor Francisco Mignone o fez. Descendente de uma família de italianos, Mignone perambulava pela região do Brás, Bexiga e Barra Funda, famosas por sua boemia suburbana e suas rodas de choro à paulista. Como músico popular, adotou o apelido de Chico Bororó e, tendo formação clássica no Conservatório Dramático Musical da capital paulista, logo levou para a música de concerto essa faceta matreira da música. É esse cheiro de sereno misturado a perfumes de salão de chá que emana das doze Valsas de esquina. Escritas entre 1938 e 1943, essas valsas constituem ponto central da obra pianística de Mignone, além de ser um dos mais aclamados ciclos de toda história do piano brasileiro. Nesta gravação, a pianista Olinda Allessandrini traz a integral das Valsas de esquina num álbum em que realiza um diálogo com compositor argentino Carlos Guastavino. Apesar da diferença geográfica, vários são os pontos comuns da sonoridade de Mignone e Guastavino, aqui representado em obras como Bailecito, Las niñas, Las presencias (nº 4 "Mariana", e nº 2 "Ortega") e Tierra linda.